Topei com uma review já um tanto antiga do site Dedoimedo (que nome, em?) sobre o GNOME 40 e feita à época do lançamento. Por acaso naquele ano eu acompanhava as lives de código do Georges Stavracas e foi quando pela primeira vez eu tive vontade de usar o GNOME. Hoje tenho instalada a versão 47 no Fedora 41. Enfim, o autor aponta todo tipo de frustrações e deficiências do shell; e parece especialmente revoltado com o fato de não poder minimizar as janelas. Na época eu usava somente o XFCE e acabei concordando com quase tudo.
Mesmo assim, lá em 2023, acabei trocando para o GNOME após ter comprado um notebook com tela 1080p e não conseguir usar escala fracionada (com desempenho decente) no desktop do ratinho. A escala de 125% não fica superboa no GNOME como é no Windows e no KDE, mas, não sei se pelo tema padrão, pelas convenções dos menus ou pela colocação dos elementos na tela, a interface do KDE me incomoda demais, chega a dar uma leve sensação de ansiedade. Minha primeira distro com GNOME foi então o Debian 12 e depois fui para o Fedora 40 devido a alguns probleminhas com o notebook. Tendo usado o GNOME por quase dois anos, depois de dois anos de XFCE, resolvi comentar alguns detalhes que me chamaram a atenção, embora o resultado final tenha se parecido mais com uma apologia.
O Tal do Workflow™
É uma interface
Muito engraçada
Não minimiza
Não tem nem barra
Tanto os que falam bem como os que falam mal mencionam o “workflow”, que é simplesmente o modo como você faz as coisas. Não existe barra de tarefas, nem botão de maximizar, nem de minimizar, nem ícones na área de trabalho. A primeiríssima vez em que usei o GNOME 3 foi um choque, um pouco pela falta dos recursos, mas principalmente devido aos botões IMENSOS. Eu ainda usava um humilde Lenovo G400s com tela 720p e carregado por um celeron. Achei inaceitável a falta de espaço e o desempenho engasgado, então tirei o pendrive, toquei fogo nele, e prossegui para um ritual de purificação (instalação do Linux Mint XFCE). Hoje, felizmente, os botões e as barras das janelas têm um tamanho mais aceitável e o desempenho melhorou bastante.
Enfim, sobre o workflow: acabei acostumando. Na verdade acho melhor do que o paradigma de desktop tradicional em notebooks (graças aos gestos no touchpad). Os botões grandes e a exposição das janelas no overview garantem que eu não precise ficar “mirando” nas coisas, nem catando ícones na barra de tarefas. Uma crítica pode ser feita quanto a necessidade de mover o cursor até o canto da tela para então mostrar os aplicativos e alternar, com a qual concordo. Usar somente o mouse no GNOME é uma tarefa ingrata (embora eu ache o mouse naturalmente cansativo em qualquer sistema). A solução então é usar mais o teclado, principalmente a tecla super, e os gestos do touchpad. Inclusive, chuto ser um incentivo proposital para que o usuário priorize a navegação pelo teclado.
Outra particularidade é que uma nova área de trabalho é criada automaticamente à direita da atual sempre que houver um aplicativo aberto, respondendo de forma simples à demanda por mais espaço. Se você dedicar cada área de trabalho para uma tarefa específica a tendência é haver menos aplicativos na tela e, assim, gastar menos tempo pensando sobre onde clicar em seguida.
Costumo não maximizar as janelas quando estou alternando entre elas frequentemente. Assim posso usar o mouse quando necessário, evitando aquela viagem até o canto da tela. Vai ver é outro incentivo implícito, agora para que tratemos a tela realmente como uma espécie de quadro interativo ou mesa. Acho interessante a percepção de espaço que isso cria; se tem algum impacto na minha capacidade de atenção ou produtividade™, não sei dizer, mas tem algo de agradável.
Costumo deixar entre uma e cinco janelas na mesma área de trabalho, geralmente o suficiente para a tarefa que estou executando. Porém há quem diga que o certo mesmo é exatamente uma janela em cada. É uma preferência que depende muito do tamanho da tela, também.
Extensões
Uso poucas extensões e do tipo que quase não altera o funcionamento do shell. Tem uma que interrompe o carregamento da bateria antes dos 100% (tornou-se recurso nativo no GNOME 48); tem uma de histórico da área de transferência; outra serve para tirar a cor da tela (acredito que esse recurso vem na próxima versão, também); uma extensão para ativar o botão de hibernar, embora eu não use com frequência depois de ter configurado o sleep-then-hibernate no systemd; um indicador de numlock e capslock, porque tenho um teclado sem luzinha; e enfim a extensão da bandeja de aplicativos (aqueles minimizados, tipo a Steam), que, realmente, não dá para ficar sem.
Pode-se dizer que o uso generalizado de extensões indica que faltam recursos essenciais. De fato o GNOME tem (ou tinha?) menos recursos e a remoção da bandeja de ícones sem oferecer alternativas foi uma decisão, sinceramente, idiota, ainda que fundamentada. Mas as extensões resolvem o problema, e permitem um nível de customização praticamente ilimitado, pois alteram o código do shell diretamente. Você pode pesquisar pela extensão que precisa ou desenvolver sua própria usando javascript. Não que seja super trivial, mas a opção está aí para os insatisfeitos.
Uma Crítica
Vindo do XFCE, eu valorizo a estabilidade ao longo dos anos mais do que qualquer outra coisa num programa de computador, até porque isso costuma acompanhar outras qualidades como minimalismo e estabilidade no sentido de não dar pau. Eu sei que posso agora mesmo baixar o Debian 12 com XFCE e encontrar o mesmo ambiente de cinco, dez anos atrás. Já o GNOME passou por aquela mudança abrupta da versão 3 e depois por uma reorganização na versão 4 (ou 40), fora as atualizações regulares de seis em seis meses. Eu gosto de como está agora (fluxo de trabalho, estética, organização em geral) porém, dado o histórico, é certo que cedo ou tarde chegaremos em alguma outra coisa distinta do GNOME atual.
Acredito que hoje o computador, hardware e software, é como um carro: a base já está bem definida e as inovações se restringem a melhorias incrementais. Mesmo assim as atualizações de software são frequentes e sempre mudam alguma coisa de lugar (muitas vezes para pior). Não é sempre um problema nem é algo exclusivo do GNOME, mas eu gostaria muito que ele chegasse num ponto em que os desenvolvedores dissessem “atingimos nossa visão. Só atualizações pontuais daqui em diante”.
Conclusão
É isso a review. Um tanto desorganizada mas acho que toquei nos pontos que me interessam. Até aqui o GNOME tem me atendido bem e as atualizações têm trazido melhorias reais - digo apesar do parágrafo acima sobre estabilidade. O fluxo de trabalho é bastante diferente mas satisfatório, e a estética, dos temas à linguagem de interface dos aplicativos, é caprichada ao mesmo tempo em que não chama atenção para si. É realmente o MacOS do software livre, apesar de, ultimamente, pelo que ouço falar, o próprio MacOS não estar à altura do seu nome.